Curitiba, cidade menina
paisagem do meu amanhecer.
Por toda parte, a marca de meus passos,
o fantasma de meus sonhos.
Jardins, pomares,
pinheiros e mais pinheiros,
onde moravam sabiás cantores
e bem-te-vis moleques
As torres da Catedral
olhavam por cima dos sobrados.
Carroças de Santa Felicidade
trepidavam no calçamento das ruas
e faziam tremer a voz cantante
das colonas italianas:
- "Qué comprá lenha,
batata doce, repolho,óvo!"
Bondes elétricos circulavam, vagarosos,
do centro para os bairros.
Perdia-se nos longes
o pregão do peixeiro português:
- "Pei.....xe! Camarão!"
Corria pelas ruas
o anúncio dos pequenos jornaleiros:
- "Gazeta do Dia"
- "Diário da Tarde!"
Estudantes eletrizavam a cidade
com sua ruidosa juventude.
Acotovelavam-se risos e conversas de crianças,
pombos brancos a caminho da escola.
Recordo Curitiba adolescente..
Uma névoa de saudade
me envolve o coração.
Helena Kolody, 1997.
A Curitiba em que Kolody viveu quando jovem não tinha asfalto. As ruas eram de paralelepípedo e bondes elétricos faziam o transporte público, circulando pela cidade, partindo sempre da praça Tiradentes, alcançavam o Juvevê, Potão e Batel. Para o resto da cidade o único jeito era ir a pé. Também não eram todos os bairros que dispunham de rede elétrica, rede de esgoto e água. Certa vez, Kolody descreve que caiu dentro de uma valeta com água lamacenta, de uniforme, e teve que retornar para casa trocar de roupa.
Série Paranaenses. n.6.
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